terça-feira, 24 de agosto de 2010

Especialistas: escolta de Nem supera esquema de autoridades

Um contingente equivalente a três pelotões (cada um tem 30 homens). Especialistas em segurança pública ouvidos pelo EXTRA relatam que a estrutura mobilizada para proteger o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, no sábado, em São Conrado, supera a utilizada em escolta de autoridades ou comboio militares. Além disso, a ação para impedir a prisão ou morte de Nem contou com a divisão de funções dos criminosos.

Um dos criadores do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o coronel Paulo César Amêndola salientou que a escolta do traficante adotou táticas normalmente usadas nas Forças Armadas ou na polícia.

— É uma ação de patrulha que fez a proteção do delinquente. É semelhante à ação usada no treinamento militar e no treinamento policial das tropas especializadas. É parecida com a escolta de uma grande autoridade, onde há formação de patrulha a pé, em motocicleta e em automóveis — disse ele, destacando o número elevado de criminosos envolvidos.

Para o coronel da PM-SP José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança, a ação dos traficantes pode ser vista com uma mistura de táticas de guerrilha e de terrorismo.

— Terrorismo porque promovem ação de impacto, que leva terror à população. Guerrilha porque tem capacidade de ação rápida, flexibilidade no deslocamento, ousadia e armamento pesado — disse.

De acordo com ele, o confronto e a invasão do Hotel Intercontinental aconteceram por erro da polícia. Segundo o coronel, o setor de inteligência falhou ao não detectar a movimentação dos bandidos. O coronel acha que os PMs não deviam ter partido para o enfrentamento em desvantagem numérica. Ex-capitão do Bope e professor da Universidade Cândido Mendes, Paulo Storani, detalhou a divisão de tarefas da escolta:

— Um grupo fez a segurança de retaguarda para permitir a fuga do grupo em que possivelmente Nem estava. Eles fizeram uma contenção, impedindo que a ação policial chegasse. 
Um motorista que passava pela Avenida Niemeyer entre as 8h10m e 8h15m do último sábado viu um grupo de cerca de 90 traficantes da Rocinha, na altura da descida da Favela do Vidigal. Segundo a testemunha, que preferiu não procurar a polícia, os bandidos demonstravam tranquilidade:

— Oito bandidos estavam fechando a pista com fuzis, para mais de 30 motos descerem do Vidigal. Em cada moto, havia um motorista e um carona com fuzil atravessado. No fim do comboio, estavam duas vans de linha, com vários homens colocando a cabeça e os fuzis para fora da janela. Eles estavam tranquilões, meio zoando — contou o motorista, ainda muito nervoso, explicando que, de início, pensou tratar-se da filmagem de um filme.

Segundo policiais da 15ª DP (Gávea), foi na base da Avenida Niemeyer, próximo a uma cabine da PM, que os traficantes teriam se dividido. Ao encontrar a polícia, parte do grupo teria seguido em direção à Rocinha, enquanto a outra, maior, teria escapado pelas ruas de São Conrado.

A polícia deve analisar nos próximos dias as imagens que moradores da região passaram diretamente para os veículos de comunicação, além dos circuitos internos do hotel e dos prédios próximos.

— Assim, teremos o detalhamento sobre que bandidos participaram e com quais armas. E, acima de tudo, quem eram os outros que fugiram. Eventualmente, poderemos ver também como o Nem está atualmente — explicou o inspetor Alexandre Estelita, da 15ª DP.
  
É "admiravel" o fato dos bandididos terem um setor de inteligência tão eficaz. A gente até aceita mas entender é complicado. 

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