Para o presidente da Associação dos Militares Estaduais do Norte Fluminense (Asmenf), Gilson de Sousa, apesar de esse ser um momento de unir força contra a violência, a atitude de deslocar os policiais de um dia para o outro não foi bem pensada, pois, além da maioria não conhecer a área que vai atuar, as abrangências do 8º BPM podem ficar descobertas.
— Muita gente pensa que a Polícia tem que estar sempre preparada, mas policial não é máquina. Para tudo é necessária uma preparação, um treinamento. A geografia é totalmente diferente da realidade deles. Muitos que foram enviados sequer chegaram a atuar em um confronto. Infelizmente é uma atitude que pode custar à vida de um militar — declarou Gilson, acrescentando que não foi informado de que forma os policiais serão aproveitados.
Já o comandante do 6º Comando de Policiamento de Área (CPA), tenente-coronel Paulo César Vieira, informou que a ida dos militares foi planejada e calculada. “O envio de policiais não vai afetar em nada o serviço do Batalhão. Para que eles fossem, tivemos que reduzir folgas e suspender férias. Na corporação temos que respeitar as leis do Estatuto Interno e uma delas é não deixar a comunidade desprovida de segurança. O envio de policias es-tá acontecendo em vários ba-talhões no Estado”, justificou.
Segundo Vieira, o Comando Geral da Polícia Militar solicitou da 6° CPA um número bastante expressivo de policias, que estão indo de forma gradativa. “Não vou revelar números, mas a população pode ficar tranquila que o município não está desprotegido”, disse.
Além de Campos, o 8º BPM é responsável pelo policiamento ostensivo de São Fidélis, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana.
Ontem de manhã, um comboio de veículos da Marinha, com dezenas de fuzileiros que estavam em treinamento do Espírito Santo, passou pela BR 101, em Campos, sentido Rio.
Conselho preocupado em Campos
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Campos, Amaro Ribeiro Gomes, disse discordar da medida adotada pelo Comando Geral da Polícia Militar, que requisitou reforço do 8º Batalhão da Polícia Militar de Cam-pos, mas disse entender que o momento é de cooperação. “Entendo a necessidade de combater esta onda de violência que atinge a capital, mas também ressalto que as cidades do interior não podem ficar desprotegidas. Hoje mesmo (ontem), os noticiários relatam ataques nos municípios de Cabo Frio e Macaé, o que nos deixa ainda mais apreensivos, já que o Batalhão de Campos é responsável pelo patrulhamento em Campos, São João da Barra, São Francisco do Itabapoana e São Fidélis. Sem contar que a medida de reforçar a segurança no Rio levou policiais militares também de Itaperuna. Esperamos que isso seja solucionado logo e a tranquilidade aceitável volte ao Rio e ao in-terior”, disse Amaro Ribeiro.
PM confirma 72 veículos incendiados na capital
Segundo balanço divulgado ontem pela Polícia Militar, por volta das 20h, 72 veículos foram incendiados em quatro dias de ataques na Região Metropolitana do Rio. Apenas ontem foram 31 veículos incendiados, sendo 13 carros, duas vans, 11 ônibus, duas motos, dois caminhões e um micro-ônibus.
O número de mortos e feridos nos confrontos na Vila Cruzeiro ainda não havia sido contabilizado até o fechamento desta edição, mas já havia 25 mortos, sendo dois no Jacarezinho, no subúrbio, ontem. No mesmo local, a Polícia Civil fez uma operação e confirmou outros sete mortos.
Ainda segundo a PM, entre presos e detidos, desde domingo, há 188 pessoas. Há ainda um ferido, três PMs feridos sem gravidade, 30 armas apreendidas (entre pistolas e revólveres), 11 fuzis, duas espingardas, uma submetralhadora 9 mm e seis granadas.
granadas. Também foi encontrado muito material combustível para incendiar carros e grande quantidade de drogas. Só na Favela da Chatuba, na Penha, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) apreendeu uma tonelada de maconha.
Criminalidade da capital para interior
Um ônibus incendiado, por volta das 1h30 de ontem, confirmou o que os macaenses te-miam. Os ataques criminosos antes vistos na região metropolitana agora estavam bem próximos dos moradores da rua W28, no bairro Lagomar, periferia de Macaé. Segundo testemunhas, dois homens en-capuzados exigiram que os seis passageiros, o cobrador e o motorista saíssem para que eles colocassem fogo. Do coletivo, restou apenas a estrutura de ferro e ninguém se machucou.
Apesar da ocorrência, os ônibus circularam normalmente no bairro durante o dia, onde o policiamento foi reforçado. No entanto, nos bairros Nova Holanda e Malvinas, apesar do policiamento reforçado, a empresa responsável pelos itinerários suspendeu o serviço.
Quarta-feira à noite, a PM foi recebida a tiros no Nova Holanda. Durante o confronto, um homem de 20 anos morreu e outros dois ficaram feridos. Todos são apontados pelo comandante do 32º Batalhão da Polícia Militar em Macaé, tenente-coronel Cid Tavares, como pessoas ligadas ao tráfico. Ainda segundo ele, um dos feridos teve a mão e o olho esquerdo mutilados ao tentar jogar uma granada no carro da polícia. “Tudo indica que es-te incêndio a coletivo tenha relação com os ataques que ocorrem na capital. Cerca de 200 PMs estão nas ruas”, destacou o comandante.
O comandante do 25º BPM de Cabo Frio, tenente-coronel Hugo Freire, confirmou que a ordem dos atentados que acon-teceram na cidade, na noite de quarta-feira veio de traficantes da capital. Ao todo, já são quatro carros queimados, o último na manhã de ontem. Freire destacou que 380 PMs estavam nas ruas do município, “inclusive os que estavam de férias, folga e trabalham no administrativo”, revelou.
Na avenida América Central, o comércio chegou a ser fechado, na tarde de ontem, depois que um grupo suspeito ameaçou os comerciantes. O local só voltou a funcionar com a chegada da polícia, que ocupou outras ruas da cidade, prin-cipalmente o bairro Manoel Corrêa e a comunidade Rainha da Sucata. Três pessoas foram detidas sob suspeita de envolvimento com o tráfico.
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